A decisão da Capcom de cobrar pelo acesso às transmissões ao vivo das finais da Capcom Cup 12 e do Street Fighter League: World Championship 2025 provocou forte reação negativa entre jogadores e fãs de eSports. A empresa justificou a medida como uma forma de manter o cenário competitivo “sustentável” no longo prazo, mas especialistas e membros da comunidade apontam riscos de exclusão e perda de visibilidade.
O modelo de cobrança
Segundo informações divulgadas pela própria Capcom, os espectadores interessados em assistir às finais precisarão pagar 4.000 ienes (cerca de US$ 27) por evento, ou 6.000 ienes (aproximadamente US$ 40) para acessar ambos. O formato segue o modelo pay-per-view tradicional, mais comum em esportes físicos, como o boxe e o MMA.
Em nota oficial, a empresa declarou que busca “garantir um modelo de negócios sustentável para os eSports, capaz de apoiar jogadores, equipes e parceiros ao redor do mundo”. O argumento central é de que a monetização direta do público permitiria reinvestir na cena competitiva, cobrindo custos de produção, prêmios e estrutura de eventos.
Reação do público e da comunidade
A justificativa, no entanto, não convenceu grande parte da comunidade de jogos de luta. Nas redes sociais e fóruns como o Reddit, fãs apontaram que o acesso gratuito às transmissões sempre foi um dos principais fatores de crescimento da Fighting Game Community (FGC). Segundo eles, colocar o principal torneio de Street Fighter atrás de um muro de pagamento pode reduzir drasticamente a audiência e afastar novos interessados.
Críticos também destacam que, em um mercado global e desigual economicamente, o valor cobrado pode ser considerado alto para regiões como a América Latina, onde o poder de compra é menor. Essa barreira financeira, afirmam, compromete o caráter inclusivo e acessível que sempre marcou a cena competitiva de Street Fighter.
Falta de alinhamento interno
A polêmica ganhou ainda mais força após declarações do diretor de Street Fighter 6, Takayuki Nakayama, que afirmou ter ficado “chocado” ao saber da cobrança. Segundo ele, a equipe de desenvolvimento não foi consultada sobre a decisão, o que indica uma possível falta de comunicação entre os departamentos de eSports e de criação dentro da empresa.
Essa desconexão interna reforça a percepção de que a decisão pode ter sido tomada mais com base em interesses corporativos do que na manutenção da comunidade.
Riscos e consequências
Analistas de eSports apontam que o modelo pay-per-view pode afetar diretamente a visibilidade da Capcom Cup e reduzir o alcance de patrocinadores. Em competições que dependem fortemente de engajamento digital e exposição de marcas, a limitação do público pode gerar efeito contrário ao esperado: menos espectadores, menor retorno para anunciantes e, consequentemente, menor interesse comercial.
Além disso, a medida vai na contramão das estratégias adotadas por outras empresas do setor. Jogos como League of Legends, Valorant e Counter-Strike 2 continuam oferecendo transmissões gratuitas, mantendo a audiência como principal ativo para atrair patrocinadores e fortalecer o ecossistema competitivo.
Um teste de modelo
A decisão da Capcom parece ser um experimento arriscado. Embora o argumento de sustentabilidade seja legítimo, a execução levanta dúvidas sobre o equilíbrio entre rentabilidade e acesso. Especialistas ressaltam que o sucesso dos eSports depende, acima de tudo, da comunidade — e restringir o acesso aos principais torneios pode comprometer a base de fãs construída ao longo de décadas.
Por enquanto, a empresa ainda não detalhou como será feita a distribuição das transmissões, se haverá trechos gratuitos ou conteúdo alternativo aberto ao público. Até lá, a cobrança permanece um ponto de tensão entre a Capcom e os jogadores.



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